quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Cirurgia

Três horas se passaram desde o acidente, estou deitado numa maca no corredor qualquer do hospital Ortotrauma. Várias pessoas passaram, maqueiros, enfermeiras e médicos, pararam e olharam para meu troféu, a fratura exposta, mas ninguém faz nada. Escuto por acaso alguém perguntar quem eu era e para onde estava indo, a resposta me deixou ainda mais nervoso, pois disseram que eu estava esperando pela cirurgia.

Desde que fui largado ali, tirando os parentes, que me visitavam de um em um, não tinha recebido nenhum atendimento ou qualquer cuidado, muito menos informações que teria que fazer uma cirurgia. Sinto muitas dores nos dois pés, mas começo a perceber que ninguém dá atenção ao esquerdo, mesmo eu relatando as dores nele.
Por alguns minutos fico sozinho naquela maca, naquele corredor, naquela dor e tenho os pensamentos mais sombrios que já tivera, e choro, não de dor, mas de medo do que virá, dos planos que terei que adiar ou cancelar, da negligência que previa do produtor daquele filme de terror, de não poder correr com meu filho, de não poder mais tocar bateria.

Antes que meus pensamentos piorem, fui levado para o raio-x, o mais doloroso da minha vida (não que eu tenha tirado muitos), mas tive que colocar o pé em posições que seria difícil até para um contorcionista. Me levam para outro andar do hospital, acho que estou próximo da cirurgia, só não tive tempo de dizer algo para minha família e vice versa. Chego numa sala e sou recepcionado por uma enfermeira que diz: quem deixou esse paciente subir de roupa? Tento ser divertido e digo: Pensei que vinha para uma festa. Mas a enfermeira não esboçou nenhuma reação facial, se a dor não tivesse tirado todo o meu senso de humor, aceitaria o desafio e a faria rir de todo jeito, usaria as técnicas infalíveis do meu amigo prateado: Papai fugiu, fugiu? tá com buço suado? Na samanamana, e por aí vai. Começam a tirar minha roupa, nada muito sexy, pois a enfermeira com cara de segurança de festa de rico continua fechada, sem muita alegria, mesmo após tirar a última peça de roupa, será que perdi meu encanto?!

Bom, sou levado a sala de cirurgia, uma médica muito simpática me recebe, juntamente com dois enfermeiros, era a anestesista que estava no seu último dia de trabalho aqui na Paraíba, pois viajaria no dia seguinte para São Paulo, lugar de origem, onde ficaria até sua aposentadoria. Pensei, ela fará um bom trabalho para encerrar sua carreira aqui com chave de ouro, ou fará um trabalho qualquer pois não estaria mais aqui para receber reclamações? Maldade minha, demonstrou ser uma ótima profissional.

Recebi a anestesia e meu corpo desfaleceu da cintura pra baixo, bem estranho você pegar no seu pinto e não senti-lo. Fiquei um pouco sonolento, mas estava lúcido o tempo todo, só fiquei um pouco enjoado quando ouvi o som de furadeira, martelo, etc. Principalmente depois de ver a cara dos médicos, os caras eram mais novos que eu e pareciam estudantes do SENAI.
A cirurgia foi realizada apenas na perna direita, até o momento continuavam ignorando a dor da perna esquerda, e consistiu em colocar uma placa no tornozelo com 5 parafusos, para corrigir a fratura exposta, não sei muitos detalhes pois não falei com os médicos, os caras se escondem, pra ter um bom atendimento ali, só seqüestrando um parente de um deles.

Ao finalizar a cirurgia solicitaram uma fotoscopia (uma foto do osso, tipo um raio-x, mas se ver no monitor o resultado), de repente chega um baixinho falador perguntando de quem eu era peixe, pois fui cirurgiado no mesmo dia que cheguei ao hospital. A galera (os médicos e enfermeiros) já foram contando minha história, que sou músico e tal (é que ficava perguntando direto pra eles: Vou poder tocar bateria?), descobrir até que o cirurgião já tinha visto minha banda tocar no Zodíaco. O baixinho da fotoscopia se empolgou com a notícia e disse: Aí Brow, vou tocar um som pra você então. Daí pegou o celular e tocou o Reggae do maneiro de Raimundos, imagina aí, a equipe médica finalizando a cirurgia e ouvindo bem alto o reggae do maneiro, pior, o baixinho começou a dançar e cantar, até a senhora distinta da anestesia dançou também, uma zorra.

A cirurgia acabou fui pra uma sala de observação, após alguns minutos fui pra enfermaria, onde dividi um quarto com duas figuras, mas isso conto depois.

3 comentários:

  1. Minha nossa...
    Que aventura, hein?!
    Bjo!

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  2. Reggae do maneiro não é aquele:

    "...ô mãe, vê se me dá um dinheiro, contrata um enfermeiro que é pra ele vir me limpar...."

    Abraços, brow !!!
    Melhoras e breve recuperação....

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  3. surreal uma cirurgia ao som de reggae do maneiro!

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