terça-feira, 30 de março de 2010

Você é um brinquedo de uma criança

O título deste post é a frase dita por "Woody", o cowboy, para "Buzz", o patrulheiro espacial, ambos do filme de animação Toy Story. Sempre ouvi a frase, mas nunca atentei para a mensagem que havia nela. Só após mergulhar no profundo da alma, pude reparar que tenho uma incumbência, uma obrigação, um privilégio, ser o brinquedo de uma criança. Um brinquedo ora lúdico, ora didático, mas um brinquedo, que tem a obrigação de alegrar, educar, cuidar, proteger, e principalmente amar uma criança.

Esse cargo é tão importante, que deixa qualquer problema insignificante, e é triste saber que esqueci isso por alguns dias. Mas eis que chega um grande pequeno homem, dá uma tapa na minha cara e diz: “Dorme não papai. Vem bincar comi. Quer tabaiá no teu contador. Vamu tocá iolão, papai? Limpa mim, papai, tem cocô. Vamu bincar de garra, papa? Onde tá meu woodhi, buzzi, frajoli, pinoqui, furca, iponja?”. Bom, não vou traduzir, quem tem filhos consegue falar "criancês" e entendeu tudo, quem não, mas pretende, aguarde sua hora.

É incrível como uma pequena bola de carne, branca e peluda (essas especificações, podem variar de criança para criança) pode ser tão chata, tão pentelha, e ainda assim ser tão agradável, pelo menos adoro ter esse trabalho, esse fardo (para alguns).

Parece ser um pensamento clichê, mas acho que o meu filho é o mais lindo, inteligente, forte, esperto, bonito, alto, saudável, gostoso, maravilhoso, grande, sabido, simpático, charmoso, legal e bondoso de todo o mundo (sem redundância) e isso me deixa orgulhosamente feliz, e acompanhar seu crescimento, ou melhor, participar do seu crescimento está me tornando alguém mais ameno, talvez até agradável de conviver, será?

A gratuidade e sinceridade do amor de uma criança são incríveis, ela não está atrás de conforto, de facilidades. Por mais que você o encha de presentes, ao passar o frenesi, ela vai desejar os braços dos pais. Ela não quer saber se vai andar de ônibus e comer “cream cracker“ com “ki-suco” ou andar de carro do ano, tomar ovomaltine e leite com pêra, ela quer estar ao lado de quem ama. O patrimônio de uma criança são as pessoas e não os brinquedos.

Claro, é hipocrisia dizer que elas não gostam de luxo, que não vão desejar um carrinho de controle remoto, mas confesso uma coisa, eu tive carrinhos de controle remoto, melhor, tive aviões de controle remoto, mas sinto uma decepção tremenda por um dia meu pai ter se negado a fazer uma pipa pra mim, enquanto os meus amiguinhos (que não tinha carrinhos, nem aviões de controle remoto) estavam felizes e satisfeitos com brinquedos feitos de palitos de palha de coqueiro, papel de seda, cola branca e linha 10 (tá aí os ingredientes para confecção da pipa, pra quem já deu um carrinho, mas nunca parou para brincar com o seu filho).

Desejo do fundo do meu coração que consiga amar como uma criança, com toda essa sinceridade e gratuidade, que deixe de colecionar as coisas erradas, de desejar conforto e efemeridades, enquanto os pequenos e simples momentos que realmente importam, passam despercebidos e quando acorde, esteja inundado de coisas, bens materiais, lambuzado e impregnado do preço pago por tudo aquilo, mas infeliz, pensando em como seria minha vida se tivesse enfrentado o mundo pelo o que achava certo, o amor.

domingo, 28 de março de 2010

Arrependimento

Não tenho mais quem culpar, acho que já usei todos, e com isso, consigo me afastar deles, dos que verdadeiramente me amaram. Hoje, como em todos os outros dias, não consegui pensar com sanidade, nem ao menos com gratidão e me precipitei, cometi mais um erro, ato tão comum na minha vida, que já desacredito se poderei um dia fazer a coisa certa.

Tenho tanta pena de mim que me odeio por isso, pois sempre julguei o resultado da minha vida como produto do meio, mas não sei se estou certo, se a culpa disso tudo não foi única e exclusivamente minha, da minha falta de atitude, ou o excesso dela (de forma prematura e inconsequente).

Odiei as pessoas erradas, amei as pessoas erradas, me dediquei a quem quis me usar e negligenciei que queria apenas minha atenção, não consigo ver o óbvio, minha hereditária decepção com a vida e as pessoas me cegou, só tenho ódio, angústia e dor dentro de mim, mas sinto que não tenho motivos pra tudo isso.

Talvez se pudesse ver as coisas, a vida, as pessoas com clareza, enxergasse uma vida boa, pelo menos razoável. Mas pelo contrário, só me lamento por estar onde estou, por ser quem eu sou. Sempre achei que deveria estar em outro lugar, ser outra pessoas, pois se “outros” não tivessem cometido alguns erros, tudo seria diferente.

Sinto inveja de quem teve um pai presente e carinhoso, eu não tive. Sinto inveja de quem perdeu o pai cedo, mas pode ao menos se beneficiar do que ele deixou, eu não pude. Sinto raiva de quem valoriza as coisas e não as pessoas, mas acho que só sinto isso, porque só tenho as pessoas (pelo menos aquelas que não cobram nada por isso).

Sinto um arrependimento tão grande pelas coisas que faço, que acho que já dei vida a ele, que é esse ser, o “arrependimento”, que me visita, me causa dor, me maltrata e me faz maltratar as pessoas com minha teatral dureza e frieza, quando na verdade sou um poço de sentimentalidades baratas, um homem que chora escondido como a mais manhosa das crianças, mas não tem coragem de revelar a ninguém.

Por falar em arrependimento, já estou extremamente arrependido de ter escrito isso, pois por mais que saiba que poucas pessoas (mais importantes) lerão, farei com que sintam pena de mim, e a pena é um sentimento ardoroso, pontiagudo e impiedoso, que me deixará ainda mais triste, rancoroso e infeliz.

sábado, 27 de março de 2010

O Manto negro

Me vestir do obscuro, do trágico, do fim do mundo. Um manto negro que cobre toda minha existência e me faz olhar apenas para mim mesmo. Vejo todos os erros e todos os errantes, que de alguma forma permiti que arrancassem um pedaço de mim.

Me enclausurei na minha própria sobra, esta densa, como um fardo a carrego para nunca esquecer que o sofrimento é um opção, pois a morte e a sorte são primas tão apegadas, que a falta de uma leva a outra. Mas só uma pode ser forçada, preciso fazer minha escolha...

Nesta minha particular caverna, recebo constantes visitas, um ser horrendo, uma mistura de todos os desenhos feitos para inimigo dos céus, o derradeiro anjo caído que vive nas trevas, e assim como podem imaginar não é uma visita amistosa, mesmo que ele sempre estenda sua mão (se é que podemos chamar aquilo de mão).

Neste momento ouço apenas sua respiração ofegante como de um animal assustado, sinto frio enquanto transpiro e tento me livrar das amarras, pois sempre que ele aparece fico preso, completamente paralisado. As vezes ele se mantém distante, outras se aproxima tanto que me sinto fraco, como se a vida estivesse ficando pra trás.

Não posso gritar, correr, e isso é agonizante. As vezes, decido desistir de lutar e me entrego, mas quando começo a sentir o seu abraço contorcer os meus ossos e a minha respiração falhar, volto a lutar e acordo do sonho que por vezes desejei ter.

Nesta introspectiva odisséia, onde luto com meus próprios monstros, não consigo achar o caminho de volta, por mais que mude de direção estou sempre perdido, coberto pelo manto negro.

sexta-feira, 26 de março de 2010

A força do pensamento

Muitos afirmam que o pensamento tem um enorme poder sobrenatural, que emana uma energia espiritual capaz de realizar tarefas inexplicáveis. A neurociência comprovou o poder do pensamento numa experiência que consistia em estimular um pensamento de um macaco para que sua atividade cerebral fosse capaz de emitir energia suficiente para mover um robô.

Entretanto, eu discordo. Nunca desejei ser um fracassado, um perdedor, um insignificante ser que pouco é lembrado pelos outros, no entanto, eis-me aqui. Nada além de um pó de gente, um caquinho de homem, um medíocre ser que tenta não cometer pecados, os capitais pelo menos, tenta não causar mal aos outros, tenta ter o mínimo de dignidade, mas que não ver relevância nisso, pois nada ganha em troca.

Não que espere pelo destino ou não deseje de forma tão intensa quanto os vencedores, pois sei sentir, desejar e pensar de forma tão insana, que meu corpo reage aos estímulos, mas o mundo não. Nunca ganhei nada em toda minha vida, a não ser que fosse negativa ou que já tivesse prometido pra alguém. Tudo na minha vida tive que lutar pra conseguir e muitas vezes não valeu a pena, foi muito suor pra pouca recompensa.

Cheguei a desistir de pensar fixamente nas coisas e só me distanciar delas, daí comecei a desejar negativamente, cobicei a dor e principalmente a morte, planejava cada detalha do suposto assalto que sofreria na próxima esquina, a reação, o tiro, o óbito. Passei a ver a morte em tudo, as vezes até sentia sua presença, mas não seu implacável sobro. Essas fases não duravam muito, sempre voltava a ser o bom moço, em vão, claro.

Portanto, na minha vida não há nenhuma prova que o pensamento tem força ou exerce algum poder sobre nós, pois nem o acidente que sofri foi fruto do desejo, pois naquela época não desejava nada disso, e se foi a realização de um desejo a partir de um pensamento retardatário, porque logo esse? Antes de qualquer pensamento ruim, tive inúmeros bons, mas não vou começar com as dúvidas, pois assim como as desgraças, são meus maiores fantasmas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Música Inspiradora

O aleijado (mais espiritual que físico) não escreveu nada novo, porém senti a vontade de deixar uma música, a que estou ouvindo repetidas vezes neste momento.

A letra é incrivelmente inspiradora e sua melodia me faz quase ter coragem de cometer o maior gesto de covardia. Apreciem..

Para ouvir a música, clique aqui.

Para ler a tradução, aqui.

Hurt (Johnny Cash)

I've hurt myself today
to see if i still feel.
I focus on the pain,
the only thing thats real.

The needle tears a hole;
the old familiar sting,
try to kill it all away,
but I remember everything.

(Chorus)
what have I become,
my sweetest friend?
Everyone I know,
goes away in the end,

and you could have it all:
my empire of dirt,
I will let you down,
I will make you hurt.

I wear this crown of thorns
upon my liars chair:
full of broken thoughts,
I cannot repair.

Beneath the stains of time,
the feelings dissapear.
You are someone else,
I am still right here.

What have I become,
my sweetest friend?
Everyone I know,
goes away in the end,

and you could have it all:
my empire of dirt.
I will let you down,
I will make you hurt.

If I could start again,
a million miles away,
I will keep myself,
I would find a way.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Balancete Trimestral

Diante o problemático cenário sócio-sentimental-econômico, me encontro em declínio, no limiar de qualquer margem de estabilidade comportamental. Digo mais, há um considerável déficit de Deus em meu almoxarifado coração, potencializado pela falha na execução de projetos que visam contribuir com o centro de custo da felicidade.

Claro que nem tudo está no crítico patamar melancólico do desespero, há ainda poucas, mas proveitosas reuniões lúdicas com o pequeno colaborador, um jovem aprendiz que temo por seu futuro, pois seu exemplo de liderança está cada dia mais negativo.

Se pudesse demandar de todo o meu tempo para partilhar com ele minhas experiências e principalmente agregar valor na sua principiante jornada, mas o inflacionário e corrupto destino, cobra com juros estratosféricos tudo que tenho conquistado de bom.

Abrir falência desta medíocre instituição, já deixou de ser opção. Mais que uma alternativa, hoje, é uma necessidade ímpar para que seu fracasso não termine gerando um efeito dominó, atingindo empresas ainda em potencial desenvolvimento.

Os gráficos mostram que para cada meta batida, houve uma perda exorbitante de mão de obra familiar e principalmente de matéria-prima sentimentos, tornando os indicadores mensuráreis com um escore “abaixo da média”. Não há resiliência que supere as sequeles e traumas causados a estrutura corporativa da alma.

Mesmo que num enfoque sistêmico eu tente flexibilizar os vínculos e os afetos que me rodeiam, de longe o que se ver é uma situação de risco, onde a desintegração psíquico-emocional me faz perder a habilidade de controlar impulsos e adentre num ciclo vicioso de atos falhos.

A promiscuidade monopoliza o comércio de juras de amor, valorizando as efemeridades. Com isso, transforma qualquer suposto ponto de equilíbrio em uma armadilha voraz, pronta para abalar qualquer estrutura organizacional e gerando, consequentemente, um apatia pelas tomadas de decisões, por mais que pareçam factíveis.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Quem sou eu?

Li hoje a seguinte passagem:

A veste de um homem, seu sorriso e seu andar revelam o que ele é.
(Eclesiates 19,30)

Logo penso, Deus quis me despir na marra, pois sorrir já era dificil, e agora com toda essa desgraça na minha vida, fudeu. Pois além de não gostar, não ter motivos para sorrir, agora meu andar é manco, capengo, estranho, esquisito e - adoro essa - engraçado.

Portanto, pergunto: Quem sou eu?

Mas tentarei fazer o caminho inverso, ou o mesmo caminho, sei lá. Consertarei a moto, e passarei no local do acidente todos os domingos as 2 horas da tarde (dia e hora do acidente), quem sabe não encontro o mesmo carro, fazendo a mesma manobra e consiga voar novamente, e melhor, quem sabe ao concluir o vôo não esteja curado, sanado, melhorado, otimizado, desmetalizado, abiscoitado, quem sabe até catequizado, canonizado e por fim: morto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Coletivo e Involuntário

Vida de aleijado não é mole não, mas confesso que uma das coisas que mais sinto falta desde o acidente, não é a firmeza nas pernas, poder saltitar como uma gazela enlouquecida num bosque verde e fictício, daqueles que só tem em filmes de sessão da tarde e nem é dançar o rebolation tion, e sim, ter a liberdade de ir e vir com minha moto (a viúva negra) para onde quiser, sem ser obrigado a participar de um sarro coletivo dentro de um ônibus (para os mais jovens, sarro, neste contexto, é quando duas pessoas esfregam seus corpos, mas precisamente "aquelas" partes), digo mais, coletivo e involuntário (para a maioria pelo menos).

Aproveito e relato como são meus dias dentro de um coletivo.

Para se ter uma idéia, tenho que acordar uma hora e meia mais cedo para não chegar atrasado no trabalho, e mesmo assim as vezes ainda chego. Tomo banho e preparo o café, que só tomarei no trabalho, assim ganho tempo. Vou para o ponto de ônibus esperar o bendito, que demora aproximadamente 30 minutos para chegar, não importa a hora que eu chegue no ponto, sempre espero 30 minutos, parece até que ele fica parado na esquina esperando passar 30 minutos para aparecer.

Quando chega que olho pra janela, não consigo ver nem o outro lado, não passa nem um raio de sol, mas sou obrigado a entrar nele, pois n posso esperar mais 30 minutos (e quando espero, parece q é o mesmo ônibus que faz a volta e vai pra esquina esperar o tempo passar). Com muito esforço consigo chegar no miolo, no meio, no centro das atividades sísmicas do ônibus. Onde além do rala-rala, esfrega-esfrega (parece música sertaneja), acontece as mais absurdas bizarrices do mundo, como fecundação, furto, brigas, fofocas (adoro as fofocas), assassinato, paquera, comércio informal, sessões espíritas e do descarrego, serestas (graças aos celulares com MP3), etc.

As vezes acontece tudo ao mesmo tempo e geralmente todos participam, não importa sua vontade, lá você participa de todo jeito. Como poucos percebem que sou portador de necessidades especiais e os que percebem não se importam, neste momento o objetivo é achar um lugar onde consiga pisar no chão com a totalidade dos meus pés e uma vaguinha na barra de ferro para minhas mãos, assim garanto minha segurança quando começar o "Bus-rally" ou a "Formula Bus", pois realmente é o que parece as vezes, os motoristas sem noção dirigem como se estivéssemos no parque de diversões.

Quando penso que as coisas não podem piorar, pois já estou atrasado, levando cotovelada e bolsada sempre que alguém passa, transpirando naquele abafado e malhando para me manter no mesmo lugar. Sempre aparece alguém muito fedorento e pára a meu lado, pior, levanta os braços e acaricia meu rosto com seus pelos “axiliais”. Deus, como alguém pode está fedendo às 6 horas da manhã?
De repente me vejo todo amassado, suando, levando escorões, respirando com dificuldades pela falta de ar e pela pressão na caixa torácica pelo amontoado de gente e agora tendo uma overdose de odores desagradáveis, não aguento e começo a passar mal, enjoar, calafrios.

Nesta hora começa uma ânsia de vômito, sintomas de diarréia, me encontro numa situação delicada e sem muito tempo para pensar, decido aliviar um pouco a pressão, soltando uma singela bufa, fico na pontinha dos pés, seguro com mais firmeza a barra, olho em direção ao sol para justificar a careta e faço força... pronto, foi.
Alívio imediato, sensação de realização total, feliz embora ainda esteja ali. Depois que a sensação de alívio passa, começo a sentir novamente a realidade, e percebo uma nova sensação, como se uma gotícula de suor estivesse escorrendo pelas minhas pernas, danço uma gafieira na tentativa louca de esmagar aquela gota entre as pernas, pois é agonizante sentir aquilo fazendo rapel na sua coxa, mas depois de duas músicas, consigo.

Passado 50 minutos, chego ao meu destino. Vou para o banheiro tentar me recompor, pois além de está amassado, molhado de suor, exalando uma catinga que não me pertence e com as pernas molhadas de suor, descubro que o que escorreu pelas pernas não foi suor, eu defequei.

Sem condições de trabalhar daquele jeito, volto para o ponto de ônibus e imaginem... lá está o mesmo ônibus parado na esquina, esperando os 30 minutos...

terça-feira, 2 de março de 2010

Deficiência Comportamental

Sofri um acidente que me deixou "paralítico" por 2 meses, cadeirante por quase um mês e andando de muletas por 25 dias. Hoje consigo andar sozinho e se me esforçar bastante ninguém percebe minhas limitações, pelo menos nos primeiros 20 minutos. Mas graças a Deus, a mim ou a Renato Russo (Cada um escolhe um desses para acreditar), consigo ter quase uma vida normal.

O engraçado é que comecei a perceber que apesar da significativa melhora, estou cada dia mais deficiente, não físico ou mental, mas comportamental. Estou Levando uma vida inerente à própria solidão, me fantasiando de gente para me misturar ao grupo, mas visto por dentro uma carapuça sombria e esquisita, que traz a tristeza, o rancor e a morbidez como sentimentos primários.

Hoje, sou mais do que nunca um portador de necessidades especiais, e das necessidades mais especiais do mundo, a alegria, a felicidade, o amor. Necessidades que vão além das limitações do homem, andar, falar, ouvir, são limitações pequeninas quando se tem a chama de viver dentro de si, mas o que tenho não passa de uma fagulha, algo tão singelo que as vezes nem sei se existe e desisto. Mas logo vem um sopro e me faz lembrar como foi bom o que eu nunca vivi, mas imaginei que vivi.

Não é difícil transformar essa faísca em algo mais fogoso, basta me tratar da deficiência comportamental, valorizando as pessoas que gosto e, sobretudo, satisfazendo meus desejos sinceros e imparciais, que só trarão o bem para o meio em que vivo e especialmente para mim.

Essa parte é fácil, basta eu imaginar o que me deixaria alegre, feliz, seja fazendo alguns cursos, listo: Libras, Teatro, Idiomas, Artes Plásticas, Música. Seja fazendo coisas triviais, mas que tem sua parcela de satisfação, como: cinema, jogos de tabuleiro com os amigos, passeio na praia, zoológico, etc. O melhor é que todas as opções de tratamento para essa deficiência são factíveis, acessíveis, salutares e na sua maioria podem ser realizadas em grupo, o que é melhor, pois como dizia o poeta "Rauzito", sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade.

Claro que tudo fica mais fácil na teoria, e que como todo tratamento, é preciso que o enfermo aceite e se dedique, mas acho que estou indo bem, pois ao escrever toda essa baboseira, precisei reconhecer que estou doente e que a cura está primeiramente dentro de mim, e que se do poço eu só conheço o fundo, é porque nunca olhei para cima, é porque nunca estiquei o braço e busquei um amparo para sair de lá.