sábado, 26 de dezembro de 2009

Boas festas

Recebi centenas de e-mails de pessoas curiosas que pedem desesperadamente para que eu mostre minha cara. Então aproveitei as festas para gravar (de forma capenga) este vídeo, onde mostro minha face macia e peluda e desejo boas festas e blá, blá, blá.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Eu não sei de nada

Preciso confessar algo que está me acontecendo desde o acidente, mas prometam que não contarão a ninguém, pois é algo sinistro e bastante perigoso.

Há algum tempo tenho sofrido sessões de torturas, ainda não sei o responsável, mas nada que eu diga o faz parar, são insaciáveis pela dor, gemidos, caretas e suplícios. Começou com sessões leves, apenas 20 minutos de choque elétrico e algumas agulhas nas pernas, mas começaram a aumentar a dose para 1 hora e 20 minutos de vários tipos de torturas que nem nos meus sonhos mais horrendos pude imaginar tal atrocidade. Além de malvados são sarcásticos, pois sempre que terminam perguntam se estou gostando, se quero mais.

Até hoje não descobri o que querem de mim, mas confesso que sempre fui um pouco adepto a dor, principalmente a voluntária, uma espécie de alto punição pelos erros que cometemos durante a vida, pena que dentre os exercícios e aparelhos não há nada que provoque a dor até não mais sentir dor.

Tá bom, essa não teve graça, estou falando da fisioterapia, que de fato é muito dolorosa, mas é bastante importante.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Insônia

Insônia que perturba a alma e invade os mais delicados sentimentos, tornando-os pontiagudos, ferreis e lesivos. Que estilhaça as boas lembranças, rasgando a carne a cada recordação de amor, amizade e juventude.

Insônia que palpita os músculos com tanta voracidade, que deixa exausto e dolorido todo o corpo. Que invade os repentinos desejos, amaldiçoando-os com a aflição de realizá-los a custa da dor e da escuridão.

Insônia alucinógena que torna visível todos os demônios conhecidos e os faz passear sobre as paredes, como se esperassem a melhor hora para atacar e de nada adianta fechar os olhos, pois seria a oportunidade perfeita para uma aproximação brusca, ao ponto de se sentir o calor e a respiração de sua presença.

Insônia que omite todas as coisas boas que já vivera, fazendo de qualquer vida pacata uma verdadeira via-crúcis, que nada conquistou além do tormento de ter feito tudo errado e o martírio de continuar no erro.

Insônia que encoraja a própria morte num primeiro instante, mas adia o ato para massacrar o que resta com covardia e incertezas de uma vida sem valor, onde o mundo é credor de um espírito vil, penhorado em troca de amargura.

Insônia que afaga o rosto com ferro quente, mas não permite um gemido de dor. Que perfura por vezes o mesmo lugar até o corpo se acostumar com o encaixe da lâmina na carne, pra depois lavar com Iodo e sódio.

Insônia que mata aos poucos, até que bem pouco fique, um fragmento, um pó de vida, uma raspa dela, apenas para que possa tentar dormir e esperar a insônia chegar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Iluminado

Muitos sabem minha polêmica história religiosa, desde jovem sempre fui revoltado com religiões, e principalmente com Deus. Muitos me julgaram ateu, mas digo-lhes: eu acredito em Deus. Sempre acreditei, só não gostava dele ou do julgamento dele, ou ainda dos destinos que ele traçara para alguns, inclusive o meu. Mas isso é apenas uma desculpa esfarrapada de quem não quer assumir os seus erros e jogar tudo nas costas de alguém, e de fato, culpar Deus é muito fácil, porém é um ato de covardia sem tamanho.

Posso contar um histórico da minha vida onde todos terão pena de mim, pois será uma história trágica de quem tinha tudo pra ter uma vida boa, mas só se ferrava na vida. Confesso que fiz isso algumas vezes para algumas pessoas, aproveito e me desculpo com elas (se alguma ler isso), pois ninguém merece ouvir as lamentações alheias, principalmente se tentam ajudar e são ignoradas ou criticadas por isso, pois era o que eu costumava fazer.

O que quero dizer é que essa história que contava não era uma história totalmente verídica, pois com certeza eu ocultava vários fatos positivos para o drama parecer ainda mais sofrido. Portanto, por mais que tenhamos uma vida sofrida, temos a parte boa e cabe a cada um decidir se vai contar, relembrar e viver em função da parte boa ou da parte ruim das suas vidas.

Sobre o acidente, tive vários pesadelos e pensamentos com ele, revivendo e imaginando se ele fosse diferente. Por mais que pense, um fato é unânime, apesar de estar mal ainda, com possibilidades de não mais tocar bateria, sentir dores e inchaços nos pés permanentemente, nunca mais ter de volta a total articulação do pé direito, não ter tido nenhum suporte, amparo, ou qualquer tipo de ajuda do responsável pelo acidente, de ter que apelar para justiça por algum direito, sabendo que se tiver sorte isso demorará no mínimo um ano, que perderei uma grande oportunidade de emprego e que deverei abandonar vários sonhos, ainda tive muita sorte, POIS ESTOU VIVO.

Por mais que meu lado depressivo queira desistir e voltar a cuspir palavrões aos céus, culpando mais uma vez Deus por meus problemas ou obstáculos, por mais que queira me trancar no quarto, ouvir Clarisse centenas de vezes e tomar vinho o bastante até ter coragem de usar as giletes recém compradas, devo ter serenidade, tolerância e lembrar que existem pessoas que gostam de mim, que existem pessoas que dependem de mim e principalmente, que existem pessoas que acreditam em mim, que posso sair dessa, que consigo ter uma vida digna apesar de tudo.

Bom, graças a essas pessoas eu consigo anular meus maus pensamento e tentar, apesar da dificuldade, cultivar os bons e seguir em frente. Obrigado a Deus, a minha família e amigos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Meus Colegas de Quarto

Após a cirurgia fiquei aproximadamente uma hora na sala de observação, logo fui levado para a enfermaria onde ficaria por mais 5 dias. Lá conheci grandes figuras, verdadeiros personagens da negligência e descaso com os menos favorecidos, contudo foram exemplos de vida e esperança.
Nosso primeiro personagem, que chamarei de RP para preservar sua identidade, cujo nome é a mistura de três outros nomes, tipo aqueles nomes de protagonista de novela mexicana, ele estava esperando por uma cirurgia no Fêmur, a segunda, pois não respeitou o período de repouso da primeira e acabou prejudicando a calcificação dos ossos.
Ele parecia está em um hotel, pois passava o dia passeando, assistindo televisão, saindo pra fumar, só era visto nas refeições. Detalhe, tudo isso na cadeira de rodas, que era o carro dele, o bem mais precioso de sua vida. Um dia ele acordou e a cadeira de rodas não estava no quarto, o que o fez chorar feito criança, e de fato era uma criança, não tinha maldade nenhuma no coração.

O Outro colega tem um nome bem comum, porém seus problemas eram complexos, ele levou uma adolescência promíscua, efêmera e inconsequente, fazendo uso de drogas e ignorando qualquer aviso de perigo dos pais, o pior é ele possuía uma doença nos rins e não sabia, quando descobriu já era tarde, os rins não trabalhavam mais e ele teve que começar a fazer hemodiálise três vezes por semana. Devido ao conjunto desses problemas ele perdeu muito cálcio e seus ossos ficaram fracos, um dia ao se levantar da cama fraturou o fêmur, fez a cirurgia, mas quando estava em recuperação foi se levantar para ir ao banheiro com a ajuda o pai, mas quando colocou força na perna "boa", fraturou o outro fêmur.

E ali estava, esperando melhorar da anemia para fazer a cirurgia do outro fêmur, tudo isso enquanto Esperava uma vaga para o transplante de rins, a doadora será a irmã. Parece ter só desgraças na vida desse personagem, eu mesmo não teria tanta força, mas o cara é muito gente boa, com um bom humor fora de sério, um exemplo de vida. Um fato engraçado nele, era durante as noites, eu geralmente tinha insônia e ficava acordado olhando pro teto, dai nosso colega de repente acordava, ficava sentando rapidamente e começava a falar, era difícil entender o que ele falava, mas um dia consegui entender, ele acordou, sentou e disse: quem pegou o meu lençol? Quem foi? Eu vi seu safado, venha pegar, venha?! Depois disso ele deitou e voltou a dormir. Confesso que nas primeiras vezes tinha medo, pelo susto, claro. Mas depois me acostumei e comecei a me divertir com isso. Quando contava pra ele, ele negava, mas rimos bastante desse e de outras histórias sobre as nossas vidas, umas mais sofridas, verdade, mas todas querendo um bem comum, a saúde.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Coisas Estranhas

Graças a esse acidente pude passar bastante tempo com meu filho o que significa que tive que assistir muitos desenhos infantis com ele, ou pior, que tive que assistir o mesmo desenho várias e várias vezes com ele. Ainda bem que ele tem bom gosto, pois o desenho do momento é Toy Story I e II, um desenho um pouco antigo, mas que também adoro.

Pois bem, um belo dia uma das canções do desenho me chamou atenção, pois de certa forma retrata minha situação.

Coisas Estranhas

Eu era o maioral para mim, esticavam tapete,
Com meu velho chapéu eu mantinha ordem em fim.

Mas ai lá do céu esse cara despencou num foguete,
Dizendo umas coisas estranhas demais para mim.

Vejam só, amigos meus sumiram num piscar,
E eu temo o que é melhor pra me aprumar.

Eu era líder, tinha poder.
Mas isso acabou,
E então o céu sobre mim desmoronou.

(Refrão)
Eram coisas mesmo estranhas demais para mim
Estranhas
Estranhas demais para mim, acho que é o meu fim

Alguém que pra você é irmão te vira as costas,
Você vai notar no fim, só vai restar solidão,

As coisas parecem ir bem, mas você perde as apostas, pois,
Termina sozinho num canto largado no chão.

(Refrão 2x)
Estranhas demais para mim
Estranhas
Estranhas demais pra mim, acho que é o meu fim

Estranhas, estranhas

Quem quiser baixar a música, clique aqui.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Perícia

Infelizmente estava muito ocupado sentindo dor e ouvindo a "dona lamentações" (esposa do condutor - Um dia tomo coragem e troco esse nome de condutor pra $&#*$ $# *$*#), mas fiquei sabendo que foi meio tenso o negócio lá, o dito cujo do condutor assim que falhou na tentativa de homicídio, sumiu, escafedeu-se. Mas foi super bem representado pelo filho, um jovem estressado e metido, desculpem-me o rótulo, mas um típico "playboy" de merda, que estava querendo dá ordens nos policiais da CPTRANS.

Um fato engraçado que fiquei sabendo é que ele estava super preocupado, não comigo e meus ferimentos, mais com os custos do conserto do carro do papai, ficou fazendo as contas de cada peça danificada, aí um grande amigo (um dos três mosqueteiros - Ler sobre) disse pra ele: Cara, tem Peugeot quem pode.
Além disso ele conseguiu tirar o sargento do sério com tanta chateação, que foi até ameaçado a levar uns tapas, tirando isso os policiais fizeram seu trabalho.

Segue as versões do acidente pelos envolvidos e o laudo final, coloco também o desenho feito pela perícia, fica mais claro pra quem ainda não sabe como foi.

Versão do condutor 01 (Ele):
Trafegava na via A, sentido José Américo/Geisel, faixa da direita quando estava executando uma manobra para entrar à esquerda surgiu o V2 em alta velocidade, não tendo como evitar o impacto.

Comentários:
O cara é tão sem noção que disse que vinha na faixa da direita, no entanto a via que ele estava trafegando só tinha uma faixa, é uma rua mão dupla com uma faixa pra cada direção. Outra coisa maravilhosa é que eu consegui fazer uma curva e com 20 metros estar em alta velocidade, ele esqueceu que minha moto é 125 cc, o que torna a alta velocidade, principalmente após uma curva, impossível. Mas Deus proverá Justiça, ou então eu consigo a tão sonhada 9mm.

Versão do condutor 02 (Eu):
Trafegava na via A, sentido Geisel/José Américo, ao chegar ao girador virou a direita e após uns 20 metros foi interceptado bruscamente por um peugeot vermelho, com o reflexo só deu para buzinar e frear até a colisão que foi inevitável. O veículo atingiu quase que de frente o V2 arremessando-o sobre o mesmo, caindo uns 15 metros a frente.

Desenho feito pela perícia:




Conclusão:
O condutor 01 (Ele) não agiu de acordo com o artigo 38 inciso II parágrafo único das normas gerais de circulação e conduta e desta forma infringindo ao artigo 169 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro).

P.S. Não entendi muito, mas isso quer dizer que a culpa foi do miserável.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Cirurgia

Três horas se passaram desde o acidente, estou deitado numa maca no corredor qualquer do hospital Ortotrauma. Várias pessoas passaram, maqueiros, enfermeiras e médicos, pararam e olharam para meu troféu, a fratura exposta, mas ninguém faz nada. Escuto por acaso alguém perguntar quem eu era e para onde estava indo, a resposta me deixou ainda mais nervoso, pois disseram que eu estava esperando pela cirurgia.

Desde que fui largado ali, tirando os parentes, que me visitavam de um em um, não tinha recebido nenhum atendimento ou qualquer cuidado, muito menos informações que teria que fazer uma cirurgia. Sinto muitas dores nos dois pés, mas começo a perceber que ninguém dá atenção ao esquerdo, mesmo eu relatando as dores nele.
Por alguns minutos fico sozinho naquela maca, naquele corredor, naquela dor e tenho os pensamentos mais sombrios que já tivera, e choro, não de dor, mas de medo do que virá, dos planos que terei que adiar ou cancelar, da negligência que previa do produtor daquele filme de terror, de não poder correr com meu filho, de não poder mais tocar bateria.

Antes que meus pensamentos piorem, fui levado para o raio-x, o mais doloroso da minha vida (não que eu tenha tirado muitos), mas tive que colocar o pé em posições que seria difícil até para um contorcionista. Me levam para outro andar do hospital, acho que estou próximo da cirurgia, só não tive tempo de dizer algo para minha família e vice versa. Chego numa sala e sou recepcionado por uma enfermeira que diz: quem deixou esse paciente subir de roupa? Tento ser divertido e digo: Pensei que vinha para uma festa. Mas a enfermeira não esboçou nenhuma reação facial, se a dor não tivesse tirado todo o meu senso de humor, aceitaria o desafio e a faria rir de todo jeito, usaria as técnicas infalíveis do meu amigo prateado: Papai fugiu, fugiu? tá com buço suado? Na samanamana, e por aí vai. Começam a tirar minha roupa, nada muito sexy, pois a enfermeira com cara de segurança de festa de rico continua fechada, sem muita alegria, mesmo após tirar a última peça de roupa, será que perdi meu encanto?!

Bom, sou levado a sala de cirurgia, uma médica muito simpática me recebe, juntamente com dois enfermeiros, era a anestesista que estava no seu último dia de trabalho aqui na Paraíba, pois viajaria no dia seguinte para São Paulo, lugar de origem, onde ficaria até sua aposentadoria. Pensei, ela fará um bom trabalho para encerrar sua carreira aqui com chave de ouro, ou fará um trabalho qualquer pois não estaria mais aqui para receber reclamações? Maldade minha, demonstrou ser uma ótima profissional.

Recebi a anestesia e meu corpo desfaleceu da cintura pra baixo, bem estranho você pegar no seu pinto e não senti-lo. Fiquei um pouco sonolento, mas estava lúcido o tempo todo, só fiquei um pouco enjoado quando ouvi o som de furadeira, martelo, etc. Principalmente depois de ver a cara dos médicos, os caras eram mais novos que eu e pareciam estudantes do SENAI.
A cirurgia foi realizada apenas na perna direita, até o momento continuavam ignorando a dor da perna esquerda, e consistiu em colocar uma placa no tornozelo com 5 parafusos, para corrigir a fratura exposta, não sei muitos detalhes pois não falei com os médicos, os caras se escondem, pra ter um bom atendimento ali, só seqüestrando um parente de um deles.

Ao finalizar a cirurgia solicitaram uma fotoscopia (uma foto do osso, tipo um raio-x, mas se ver no monitor o resultado), de repente chega um baixinho falador perguntando de quem eu era peixe, pois fui cirurgiado no mesmo dia que cheguei ao hospital. A galera (os médicos e enfermeiros) já foram contando minha história, que sou músico e tal (é que ficava perguntando direto pra eles: Vou poder tocar bateria?), descobrir até que o cirurgião já tinha visto minha banda tocar no Zodíaco. O baixinho da fotoscopia se empolgou com a notícia e disse: Aí Brow, vou tocar um som pra você então. Daí pegou o celular e tocou o Reggae do maneiro de Raimundos, imagina aí, a equipe médica finalizando a cirurgia e ouvindo bem alto o reggae do maneiro, pior, o baixinho começou a dançar e cantar, até a senhora distinta da anestesia dançou também, uma zorra.

A cirurgia acabou fui pra uma sala de observação, após alguns minutos fui pra enfermaria, onde dividi um quarto com duas figuras, mas isso conto depois.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Odisséia

Após os primeiros cuidados do SAMU, resolveram me levar para o Hospital Ortotrauma em Mangabeira. Fui colocado na ambulância com uma senhora histérica que não parava de chorar e falar dos seus problemas, o pior era a voz dela, parecia uma taquara rachada.
Pensei que era uma nova técnica da secretaria de saúde para os enfermos esquecerem da própria dor, porque de fato, por alguns minutos esqueci das minhas e só pensava em matar aquela senhora e curtir em paz meu momento de aflição, dor, angústia, revolta, etc.

A melhor parte era quando ela tentava falar ao telefone, parecia uma discussão de família em noite de Natal (na casa de vocês também acontece isso?), como apenas uma pessoa conseguia produzir tantos sons ininterruptos, quase me faz levantar e sair correndo, como um milagre.
Depois de muito odiar e desejar a sua morte, descobri que a senhora é a esposa do condutor do veículo o qual me deixara naquela estado, odiei e desejei matá-la mais ainda. Agora tudo ficou claro, ela veio terminar o que o marido começou, usando uma técnica diferente.

Confesso que ela quase consegue e não apenas eu, toda a equipe de salvamento do SAMU assim como um grande amigo que me acompanhou no translado, todos estavam desejando matá-la ou o suicídio, qualquer coisa que colocasse um fim naquele pandemônio, ficávamos trocando olhares e rotulando aquela senhora com adjetivos negativos e semelhantes, Louca era o mais nobre deles.
Bom, a viagem do local do acidente até o Ortotrauma foi horrível, muitas curvas, buracos, cada sacudida amplificavam a dor e agonia que sentia enquanto pensava se depois de tudo isso poderia andar, correr, praticar esportes, tocar bateria (esse é o que dá mais medo e aflição), e ainda tinha aquela voz irritante no juízo.

Quando cheguei no Ortotrauma um senhor de blusa Pólo e uma caneta reluzente foi logo dizendo: Fratura exposta, não pode ficar aqui, precisam levá-lo para o Trauma. Naquele momento recebi o espírito Joseph Climber, e pensei, não posso me abater, até mesmo nos mais terríveis obstáculos preciso encará-los como novos e maravilhosos desafios.
Então gargalhei para tentar chamar atenção, pois além dos protocolos e toda aquela burocracia, existia alguém Fu**do ali, sangrando e agonizando de dor. Mas tudo inútil, o bate-boca entre a técnica do SAMU e o tal senhorzinho durou alguns minutos mas não resultou em nada, entrei novamente na ambulância e fui a caminho do Trauma.

Novamente o sacolejo das curvas e buracos, e quando cheguei lá aliviado, pois agora todos os meus problemas acabariam, assim como um produto das organizações Tabajara. Escuto de outro senhor, que pelo menos estava vestido como médico: Ele não pode ficar aqui, segundo a portaria número $(&$(%$ da secretaria da Saúde, ele precisa ser levado para o Ortotrauma em Mangabeira.
Parece piada não é mesmo? Mas infelizmente não era não, me colocaram novamente na ambulância e me levaram para o Ortotrauma, pois é, ninguém me queria, cheguei a solicitar que me levassem pro cemitério, talvez lá encontrasse uma cova rasa e acabasse com aquele sofrimento, mas nem isso, não tenho vontades, apenas o direito de sentir dor, quem mandou não ter plano de saúde.

Chegando no Ortotrauma, já fui chamado pelo nome, todos me conheciam, eu era o cara da fratura exposta, pois é, e graças a fratura exposta já fui direto pra sala de cirurgia, mas essa história fica pra depois.

domingo, 1 de novembro de 2009

Os Três Mosqueteiros

Dizem, você tem um anjo da guarda forte... Acredito! Não exatamente como rege a crença cristã, que o Senhor nos envia alguém para proteger quando nascemos. Mas acredito em alguma proteção sobrenatural, fica mais fácil. Já imaginou tentar achar um motivo sensato pra justificar a sorte que tive no acidente? Usar a física, por exemplo, traçar minha trajetória, calcular velocidade, o empuxo em referencial acelerado, blá, blá, blá... para que tivesse apenas essas sequelas no acidente?! Ficaria louco.

Pois bem, além dessa proteção, posso contar com outra, uma ajuda menos santa, menos bíblica, diria até um pouco profana, mas totalmente voluntária, ninguém ordenou ou delegou a esses "anjos" que me ajudassem, também não fazem por interesse, pois não tenho nada. Na verdade não sei nem porque eles perdem tempo comigo, nem legal eu sou.
Bom, posso dizer que tenho um punhado desses anjos em minha vida, mas falarei de três, que nesse acidente foram fundamentais.

Quando estava no chão, me pediram alguns números de telefones de pessoas que poderiam ser úteis naquele momento. Poderia ter ligado pra família, mas para uma situação como aquela, melhor não, te deixam mais nervosos, caem no choro, e acabam não ajudando tanto.

O Primeiro a chegar foi Athos, o "Baixim Toradim", ou melhor a voz dele, pois como estava na horizontal, meu angulo de visão não permitia olhar menos de um metro e meio do chão, mas com um pequeno esforço levantei a cabeça e o vi, com uma expressão: P**a que pariu, o bicho se f***u. Apesar do nome, Athos não teve muitos "athos" quando me viu, ficou meio atônito, pálido por alguns segundos. talvez por usar a mesma montaria e acabar se imaginando naquela situação, cavalo de duas rodas é F**a. Passado o susto começou a interagir com os camponeses da região. Logo depois senti um grande volume de massa se aproximando, fazendo uma sombra gigantesca e seguido de tremores de terra, parecia que o sol estava se escondendo atrás de uma montanha, ou melhor a montanha estava caminhando em minha direção, o que seria aquilo, me perguntei. De repente parou, o dia quase vira noite, e quando consigo enxergar nitidamente por causa da falta de luz solar, percebo que era Porthos, o "gordo", que acabara de chegar. No mesmo momento chega Aramis, o "mago", que se fosse um pouquinho mais feio, chamaria de Steven Tyler (o vocalista do aerosmith). Outra coisa curiosa é que sempre que acontece isso comigo (essa foi a segunda vez) ou me encontrei ou vou me encontrar com ele, seria ele o problema? Será que forças ocultas não querem que nos encontremos, será que a magia negra presente na banda Aerosmith está tentando acabar com o que seria a melhor banda de Rock autêntico do mundo? será... tá bom, parei! Pronto, meus heróis estavam todos lá, e de repente parei e pensei, olhando para os três juntos, Esse trio está mais pra Monstros S.A do que Os Três Mosqueteiros, mas cada um tem os heróis que merece.

A conclusão dessa história, é que pude contar com essas pessoas quando precisei, que chegaram lá antes mesmo do SAMU. E mais, os três mosqueteiros poderiam se transformar em 10, 20, no máximo 30 (não sou tão popular assim) se tivesse ligado pra todas as pessoas que eu considero e que me consideram (diria amo, mas ficaria muito gay, e já basta a história de D'Artagnan).

P.S. – Preferi preservar a identidade dos meus heróis, para que eles continuem sendo meus amigos.
Faria referência aos Três Reis Magos, mas entre D'Artagnan e Menino Jesus, preferi ser D'Artagnan, menos problemas com direitos autorais e mosqueteiro está mais próximo a realidade dos personagens, viver em tavernas enchendo a cara.

sábado, 31 de outubro de 2009

O Acidente

Tinha acabado de ver meu filho, o que me deixou muito excitado, eufórico, feliz. Mas ainda precisava fazer tanta coisa... Estava a caminho da casa do meu primo, onde pegaria a bateria para ensaiar com minha banda autoral (adoro dizer isso, BANDA AUTORAL), mas no meio do percurso... Acabara de fazer uma curva a direita, começando a acelerar novamente. No sentido contrário vinha um carro, Peugeot 206 vermelho metálico, que de repente cruzou minha frente, sua intenção era entrar numa pequena rua a minha direita, o problema é que ele não olhou para a frente ou não esperou que eu passasse, em frações de segundos tive a oportunidade apenas de buzinar e frear, quando vi que o impacto era inevitável, dei um pequeno salto da moto para livrar a perna e expressei minha revolta: P**A QUE PARIU!!

Fui arremessado como numa catapulta e o pára-brisa do carro serviu de prancha de lançamento, voei uns 20 metros como um homem bala, mas involuntariamente e felizmente não cai de cabeça, inspirado com as olimpíadas, dei um mortal carpado e cai com os pés no chão, depois um pequeno salto e pronto, parei de quicar. Ufa, acabou! Agora vou levantar, sacudir a poeira e resmungar por uns arranhões na moto e seguir meu destino. P***a nenhuma!

Vejo um senhor vindo em minha direção, apontando o dedo, proferindo algumas palavras em uma língua incompreensível e desaparecendo, como mágica. Pensei, Deus veio me buscar, que bom, esperava qualquer um, menos o próprio (é que temos nossos probleminhas). Mas estava errado novamente, descobri que o senhor era o condutor do veículo, que após aquela rápida aparição, sumiu do local do acidente, os motivos são desconhecidos, mas existem várias teorias que depois comento.

Enfim, sinto fortes dores nos meus pés, seguindo de um cheirinho de churrasco, minha própria carne, sendo assada pelo asfalto quente daquele domingo fervente. Os olhares da multidão que me cerca, machuca meu orgulho, nunca gostei de ser o centro das atenções, principalmente neste contexto.

Um colega motoqueiro que nunca vi na vida, chega como se aquilo fosse comum e corriqueiro para ele, saca de forma faroéstica um celular do bolso e diz: um telefone de alguém aí boy, pra te ajudar. Digo uns três nomes e seus telefones (depois comento sobre), ele faz as ligações e diz estar tudo resolvido, dá boa sorte e desaparece. Seria esse meu segundo quase contato com Deus?! Acho que não. Em paralelo, alguém ligou para o SAMU que estava a caminho.

Após 20 minutos (do grande) de espera, com dores e quase ficando bem passado naquela churrasqueira com pedras vulcânicas, chega o SAMU. Faz a verificação inicial, cutuca todos os meus ossos e constata, ferimentos apenas nos pés. Ufa! Alguns curativos e pronto, minha apresentação ao novo emprego amanhã não estará comprometida. Pois é, não tinha mencionado isso? no dia seguinte começaria num novo emprego, numa grande empresa, quase um sonho... Mas estava errado mais uma vez. Escuto da técnica em enfermagem que compõe a ótima equipe do SAMU: Temos uma fratura no pé direito, e começa minha odisséia até o hospital...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Introdução

Num instante, tudo em câmera lenta. O reflexo do sol no cintilante monstro de metal cada vez mais próximo. Aquele momento pede uma trilha sonora e a faço com elegância, buzina em semicolcheia acompanhada de freada em paradiddle no contratempo, em apenas um compasso, pois chega o grande momento da obra, um som estridente e ao mesmo tempo roco para um encontro quase nupcial (se não fosse forçado, pois não concordei com o coito, um estupro) dos ferros, plásticos, borracha, vidros e outras matérias que compõem a anatomia dos automóveis e motocicletas, e assim como todo gozo, sou lançado ao alto como um espermatozóide bêbado tentando fecundar o grande óvulo de asfalto, mas falho. Atinjo a superfície infértil e quico como uma bola murcha. Olho para o céu, um dos mais bonitos que já vi, talvez pela perspectiva, nunca tivera olhado pro céu daquele ângulo, naquela hora, lindo.

Em outras palavras: um carro bateu na minha moto, voei, caí.

Encontro-me no estado temporário de parcial invalidez, e só agora percebo que já estava nesse estado, pois metade da minha vida não recebia a devida atenção ou o devido valor, coisas simples, coisas vitais. Coisas não, pois elas não são importantes, digo pessoas, momentos, sentimentos, fragmentos que juntos constroem a parte feliz de nossas vidas, já que somos isso, colecionadores de momentos felizes, para quem sabe no fim, ter um porção maior de amor, que de outros sentimentos efêmeros ou maléficos.

Lembro-me de uma canção cantada por crianças ao pular corda, inspirei-me e fiz minha versão:

Um carro bateu na minha moto e eu, caí.
Senhoras e senhores, fratura num pé só.
senhoras e senhores, bati com o pé no chão.
senhoras e senhores, dei uma voadinha.
e caí no meio da rua....